quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Você e Eu

Você e Eu

A paz assolou a terra.
A guerra devolveu a vida.
O sol esfriou o dia.
A lua aqueceu a noite

Os sentimentos se dissiparam.
A emoção não marejou os olhos
O amor a saudade escolheu
À porta a paixão não bateu

O olhar levantou barreiras.
O sorriso não mais foi visto.
A atração desprezou o prazer.
A galope o desejo partiu.

O sonho se tornou real.
O segredo se revelou
De solidão se viveu
Só existe você e eu.


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Versos ao Vento

Versos ao Vento

Toda felicidade
Pode ser compartilhada.
Hoje sou feliz fazendo
Fazendo ou não fazendo nada.

Se te ver é o que eu tenho
Aproveito esse momento
De você e do seu olhar
Viver longe eu não aguento

Por isso sofro calado
Aguardando meu momento
Sei que um dia ele virá
E trará fim ao tormento

Pois sou bom filho de Deus
E sei que a fé é um alento
Que faz até o impossível
Acontecer no seu momento.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Professora

Descobri com a professora
Que a letra será minha amiga
Com ela poderei contar
Tudo o que faço na vida

Com a letra posso brincar
E fazer com ela versos
Posso contar onde moro
Também dizer do que gosto

Quando eu souber escrever
Sem repetir muito as letrinhas
Formarei qualquer palavra
Todas novas, novinhas

Com o "a" direi que é amor 
Com o "b" que é de brincadeira
Com o "c" vou dizer um conto 
Com o "d" vou pedir um desconto 

Quando se aprende escrever
Com a ajuda da professora
A escola se torna uma nave
E o livro o universo da gente.


domingo, 27 de outubro de 2019

Poesia

A poesia brota dos versos
Que o poeta cultiva.
E para mantê-las vivas
Precisa que sejam lidas.

Não há tempo bom ou ruim
Para uma poesia se ler
Não há inverno ou estio
Só falta você querer.

Plante também um verso
E veja como ele floresce
Divida com quem você ama
Que a boa poesia agradece.

O verso irá sempre brotar
No lugar que você desejar
Embaixo de um viaduto
Ou no aconchego do lar.



quinta-feira, 24 de outubro de 2019

As Nuvens

Quando aprender a voar
Quero um céu de brigadeiro
Para ver do alto o paradeiro
De quem está a me esperar.

Quando eu começar a voar
Quero no céu poucas nuvens.
Para lá do alto ver
Minha gente a caminhar

Ver a meninada jogando
Bola de gude pra ganhar
Ver a terra estreitando o rio
E o conduzindo até o mar.

Quando eu me ver voando
Com as asas que terei
Vou trazer você de volta
E nunca mais lhe perderei.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Sofrimentos Psíquicos e como Acontece uma de suas Manifestações. (Relato de Vivência)

  Quando do relacionamento o sujeito evoca diferenças ou uma incompatibilidade que a primeira vista para o sujeito são insuperáveis, caberia já aí tratamento, porém, o sujeito raramente reconhece como problema esse sintoma que, aparentemente para o sujeito, pode acontecer com todo relacionamento dito (pelo sujeito) "saudável".
 Visto por outro ângulo, quando do relacionamento o sujeito evoca diferenças e uma incompatibilidade que, "a primeira vista" (falta-lhe refletir) para o sujeito são insuperáveis, essas diferenças podem não ser assim insuperáveis, podem, ou talvez devessem ser melhor analisadas pelo sujeito sendo que sua não observação ou tratamento precoce, pode ou, poderá lhe levar a uma psicose que, aí sim, demandará um tratamento pois os sintomas não mais será sentido apenas pelo sujeito, mas implicará em uma obstrução para outros relacionamentos, sejam estes passageiros ou duradouros. 
 Essa neurose, quando chega ao ponto de impedir ou inviabilizar o gozo do sujeito, como nos diz Freud: Para Freud, a repressão opera porque a satisfação direta da moção pulsional, que se destina a causar prazer, poderia causar desprazer ao entrar em dissonância com as exigências provenientes de outras estruturas psíquicas ou exigências do meio exterior.
  Assim, considerando que o sujeito quer um relacionamento que lhe de prazer, e prefere este ao prazer solitário, porém, não se relaciona colocando sempre um empecilho seja esse real, como em algumas situações, ou imaginário, como em outras, e, considerando ainda que o sujeito transforma uma situação imaginária, ou, esse empecilho imaginário em real, essa neurose já não causa apenas sofrimento ao sujeito mas pode provocar sofrimento em outras pessoas.
  Daí a neurose não ser mais, ou, deixar de ser apenas um problema do indivíduo neurótico mas de outras pessoas.
Esse problema, ou neurose, pode, assim, passar a ser um problema de toda uma comunidade, dependendo, claro, de que comunidade ou, da comunidade que o indivíduo neurótico seja portanto participante.
 Como exemplo de afetação ou não afetação da comunidade, poderia citar, respectivamente, uma comunidade de estudos, (escolas de séries frequentada por adolescentes ou mesmo de nível superior), e o convívio do neurótico entre amigos.
  A neurose evolui para psicose quando.
  A neurose evolui para uma psicose em eventos que provocam sofrimento ao neurótico. Esse sofrimento é causado justamente pela compreensão pelo neurótico de que ele deveria se relacionar de maneira diferente do que "normalmente" se relaciona com as pessoas porém, não consegue.
  O ato de não conseguir é a repetição da neurose.
  Essa repetição é o que causa sofrimento ao neurótico.
 Uma solução, entre outras, é o que diz  Eagleton, (1993),
"Talvez tudo deve se tornar estético. 
A verdade, o cognitivo,
torna-se aquilo que satisfaz a mente (...) A moral é
convertida numa questão de estilo, de prazer ou de
intuição. Como viver sua vida de forma mais adequada ? –
Tornando-se a si mesmo uma obra de arte – é a resposta."
(Eagleton, 1993, p.206)
  Se o ato sexual ou a idealização desse ato não é reconhecido pelo neurótico como algo positivo, ou se o neurótico não reconhece que o ato ou o gozo que demandará da continuidade da ação conjunta que lhe restará em gozar e esse gozar lhe fará ou lhe trará satisfação, e lhe impedirá ou interromperá seu processo de sofrimento, ou, ainda, se o neurótico não reconhece seu sofrimento como sendo justamente o ato repetitivo de não se deixar relacionar, logo, não lhe permitir a possibilidade do gozo, isso implica em uma não realização e o paciente neurótico não investe em sua conclusão interrompendo, assim, seu percurso natural ou o percurso que o levaria ao gozo.
  Entendendo que o sofrimento não seja compreendido, reconhecido, percebido ou, mesmo de alguma forma reconhecido porém insistentemente negado (pra si mesmo) pelo neurótico antes dos seus desdobramentos ou dos desdobramentos que lhe levará ao gozo e, apenas depois desse interrompimento, como já descrito, por motivos reais ou imaginários, é que aí sim se perceba, reconheça e admita-se que não houve o gozo ou o gozo mais uma vez não lhe será possível, ou não lhe será possível gozar visto o interrompimento deste (pelo próprio sujeito desejante do gozo) é que  começará, então, os sintomas mais claros e forneça informações mais detalhadas sobre o próprio sofrimento e sua neurose que, se não esclarecida a tempo poderá se transformar em uma psicose. Essa sim real e, muitas vezes, imperceptível para o neurótico que, dificilmente a reconhecerá se não através de um diagnóstico especializado ou de uma medicação apropriada.

sábado, 19 de outubro de 2019

Sport



Quando a turma é mesmo boa
E é mesmo da fuzarca

Sport

Somos um mar preto e vermelho
Uma nação dentro do Estado

Sport

Somos um estado de emoção
Somos um grito de guerreiros

Sport

Somos todos de Recife
Somos todos Rubros Negros. 

Sport

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Não Era Para Acontecer

As pedras no  caminho
Dispostas para você tropeçar

Não era para acontecer.

O sol frio e sem  brilho,se pondo
no horizonte
A lua aflita não iluminando a noite
Por você não lhe notar.

Não era para acontecer.

O tempo que nós perdemos
Os olhares que não trocamos
Os sorrisos que nos negamos
A solidão a que nos entregamos.

Não era para acontecer

O amor sem você.
Meu olhar sem te ver
Aquela manhã de Setembro
Quando nos despedimos

Não era para acontecer.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Outra Paixão

Porquê fui parar para olhar ?
A caso não sei eu,
Por experiência,
Que o amor fascina ?

Porquê me detive ?
Porquê não segui meu caminho ?
Há, a minha estupidez,
Sempre vítima do olhar
E do jeito meigo
De quem não está a desejar.

Será que não sei que vou sofrer ?
Outra vez ? Quanta paixão,
Quanta desilusão,
Pode um homem suportar ?

Ou suportar a desilusão
É tudo que pretendo,
É tudo que quero, Será ?
Que modo estúpido de amar.

Será que aprender a suportar
É tudo que meu coração deseja,
Ou terá, Nada mais ?

Será esse o destino do meu coração ?
Transformar a paixão em solidão
E o amor em algo tão fugaz ?

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Soneto Para o Sétimo


Soneto Para o Sétimo

Para o amor vencer e lhe amadurecer
E suas paixões serem transformadas
Divida a alegria que hoje sobra em você
Abrace e se entregue com amor e perdão.

Ganhe e deixe de ser o alvo perfeito
O que você agora explode no peito
Gera o orgulho de se ter por inteiro
Indo ao encontro do bem verdadeiro.

A sua mão amiga é que lhe fará enxergar
Que você é a luz no final desse túnel
Lhe reconduzindo outra vez a sonhar.

Sua voz doce e suave lhe renovará
Você não será mais uma fera ferida
E brotará flor, no sétimo e na vida.

sábado, 28 de setembro de 2019

Nunca Jamais (Versos Impróprios)

Nunca precisando de carinho
Sempre desdenhando o amor
Livre e só no caminho
Jamais me dei conta da dor

Flertando com a solidão
Fiz dela minha sina e irmã
O deserto que nela forjei
Me esconde onde desejei.

Os pés descalços no chão
Na poeira, pedras e espinho
Sem casa, ninho ou sombra
Nesse arenoso caminho.

Nem o sol inclemente de dia
Ou a Lua que a noite esfria
Me trazem alguma lembrança
Ou criam qualquer esperança.

De rever um querer que deixei
Na sombra esperando partir
Levando embora com ela
O calor que desejou dividir.

E quem ainda busca carinho
E sente desejo de amar
Não leia essa imprópria poesia
E reze para não se apaixonar.





domingo, 8 de setembro de 2019

Saudade de Caruaru


SAUDADE DE CARUARU

Quantas saudades eu sinto
Quando longe de Caruaru.
Das suas comidas típicas
Da sua feira e seu São João.
Dos bacamarteiros e do pife
Do grande artista João.

Se vejo cá um boneco
Lembro logo Vitalino.
Fazendo do Alto Moura
A sua terra nativa.
Ser conhecido nas Américas
Como maior Centro
De Artes Figurativas.

Caruaru da estrada de ferro
E que o progresso assistia
Onde das baleadeiras fugindo
Os calangos corria.

Caruaru do Central
Da igreja da Matriz
Da escola Tabosa
Onde fui aprendiz

Do mestre Onildo Almeida
De Petrúcio e Azulão
Caruaru mesmo longe
Continua em meu coração.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Dança

DANÇA


O amor é como uma dança
O primeiro passo encanta
O próximo é a esperança.
Dançar só, seu aprendiz se cansa.

Se não me encantasse tanto
Pensar em você, não lhe diria.
Se no meu peito coubesse
Mais de você, não lhe contaria.

Do lugar que você ocupou
Saem palavras apertadas.
Tão fáceis de serem ditas
Por restarem abarrotadas.

São sobras que não são
Sobras que as desejo.
Eu apenas quero ter
Mais espaço no meu peito.

Quebre esse meu peito
E me traga a esperança
O despojo é todo seu
Viverei novas lembranças

Se entregar a dança
Talvez seja assim
Que a liberdade
Enfim se alcança.


domingo, 11 de agosto de 2019

A Imbecilização Coletiva

Brasil vive "tentativa de imbecilização coletiva" Diogo Sardinha

Ao concordar com o filósofo português, já citado, espero trazer aqui uma diferença que considero crucial, entre o imbecil e o "não imbecil", para usar a lógica aristotélica para quem "tudo o que não é preto, é não preto" bem reproduzida por Jacques Lacan. Assim, tratarei aqui de imbecil, e "não imbecil".
Podemos observar a diferença entre os dois adjetivos partindo da expressão (apócrifa) de um grande artista da renascença que, ao ver uma magnífica pintura de outro artista, exclamou: "Anch'io sono pittore"(Eu também sou pintor. Corrégio, ao contemplar um quadro de Rafael). Ou seja, quando um "não imbecil" vê ou presencia uma grande obra, um grande trabalho feito por quem quer que seja, mesmo se o autor desse grande trabalho for um concorrente, o "não imbecil" irá admirá-lo e respeitá-lo, e, se tiver talento para tal, tentará reproduzi-lo.
Quanto ao imbecil, ao ver um grande trabalho realizado por quem quer que seja, sua reação será sempre a de inveja, repúdio e, dependendo do tamanho da sua imbecilidade, ódio. O processo de "tentativa de imbecilização coletiva", ao qual o filósofo português se refere, trata, compreendo, também desse aspecto pois, ao tentar destruir as realizações e conquistas sociais voltadas claramente para a inclusão e a justiça social de governos anteriores, o atual governo age exatamente como um imbecil.
Portanto, apoiar as (des)medidas desse atual (des)governo, nada mais é do que se tornar um imbecil tal qual o governante. Esse processo ou essa tentativa de "imbecilização coletiva" é bastante preocupante e está mobilizando pensadores de várias partes do planeta, precisamos nós, brasileiros e brasileiras, que somos voltados para a área da Educação, fazermos nós também o que for possível para barrar e, se possível, acabar de vez com esse processo que está em curso e já conta com o apoio da velha mídia.

Na Pista

Então foi pra ela o seu sentimento.
Na verdade os dois ficaram felizes.
Enfim o amor foi pra pista.
Como dizem, foi amor a primeira vista.

Então ela é mais do que você esperava.
E você é pra ela o final da procura.
A felicidade é assim com certeza.
São só vocês dois e o amor, que beleza.

Confessa se quando juntinhos na cama,
do lado de lá o lençol nem amassa.

Me fala se os beijos são assim, sempre molhados.
Me diz se é verdade que o tempo não passa.

E quando você fecha os olhos você vê estrelas.

sábado, 3 de agosto de 2019

Território

Há um território que é seu
Uma planície bela e fecunda
Um lugar que muitos procuram
O lugar onde muitos se perdem

Nessa planície o vento é suave
E nela a noite não tem lugar
Os dias são sempre tão lindos
E só você pode nela plantar

Essa planície é o seu pensamento
O seu espaço de se reinventar
E por isso ele é tão cobiçado
E cabe a você dele cuidar

Jovem estudante e calouros
Sua amiga agora é a ciência
Construa com ela um arado
E plante seu sonho dourado


quarta-feira, 10 de julho de 2019

Sobre A Neurose

    A partir da leitura do texto, O Futuro de Uma Ilusão, Sigmund Freud 1927, podemos perceber a diferença entre a neurose do que crê, e a neurose do ateu. O que crê, absorveu a neurose universal, enquanto o ateu precisa construir a sua própria neurose, a neurose pessoal. "Desta forma, a aceitação da neurose universal poupa ao indivíduo o trabalho de elaborar uma neurose pessoal."(O Futuro de Uma Ilusão, Sigmund Freud, 1927. p. 23) (p. 123 no original). Como dito, o neurótico crente, o que aceita a neurose universal, está em paz com sua neurose, o trabalho já foi feito por outros antes dele(a) e ele(a) só precisa aceitar a neurose, se entregar a ela e ficar feliz e em paz com ela, é muito fácil, cômodo e tranquilo. 
      Quanto ao ateu, esse precisa trabalhar muito seu intelecto para construir a sua própria neurose, ou, a neurose pessoal e assim, ficar em paz com ela. Essa construção causa vários problemas, inclusive de relacionamento, entre o ateu e a realidade que o cerca. Por conta desta diferença, podem surgir desconfianças, alguns podem enxergar o ateu como um monstro, ou como uma pessoa não civilizada, ou, até mesmo, perigosa. O ateu se vê, portanto, não em uma, mas em muitas encruzilhadas, sua construção é demorada, pode levar uma vida e as críticas, ora a favor, mas na maioria contrária, pode causar uma série de pequenas neuroses, ou pequenas frustrações, o que Freud identifica como sendo um sintoma do recalque, e pode lhe impedir ou dificultar seu desenvolvimento cognitivo em relação a certas habilidades ou aprendizagens, inclusive, pode lhe privar de ter relacionamentos prazerosos.
      Como resultado dessas diferenças, há que se reproduzir o que Freud diz quanto ao crente, no caso, este, mesmo existindo a possibilidade de lhe esclarecer e ele abandonar sua crença, isso seria uma verdadeira crueldade para com ele(a) 
     Freud propõe finalmente uma educação não religiosa. Ele sabe, porém, que “o crente não permitirá que sua crença lhe seja arrancada, quer por argumentos, quer por proibições. E mesmo que isso acontecesse com alguns, seria crueldade. Um homem que passou dezenas de anos tomando pílulas soporíferas, evidentemente fica incapaz de dormir se lhe tiram sua pílula.” (p.63). (O Futuro de Uma Ilusão, Sigmund Freud 1927, p. 25).

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Dois


Dois

Não desista assim
Não desista assim
Tão fácil dos seus sonhos.

Se persiste em seu peito uma chama
Saiba que essa chama arde em mim
Saiba que essa chama é o nosso sonho
E sonho é chama que arde e não tem fim.

Só pra fazer arder
Só pra fazer arte
Só pra dizer a você.

Não somos os donos dos desejos
Não sabemos onde ele pode nos levar.
Se o sonho que nos trouxe até aqui
Pode sonhando nos levar a outro lugar

Não desista assim
Não desista assim
Tão fácil dos seus sonhos

Se o sonho que nos fez se encontrar
É o mesmo e pode fazer nos separar
Mas a distância é o nosso sonho afinal
Por isso lhe escrevo, e isso pode ser real.

Não desista assim
Não desista assim
Tão fácil dos seus sonhos

Mas a distância é o nosso sonho afinal
Por isso lhe escrevo, e isso pode ser real
Sonhar que o fim é mesmo algo tão banal
Sonhar que o fim é mesmo algo natural.



segunda-feira, 1 de julho de 2019

Despedida

Há tempos não lhe digo uma novidade
Não inventei mais o que você gosta de ouvir
Há dias que me encontro longe de você
Nos afastamos assim sem se quer perceber.

Tudo aconteceu como o destino previu
Ou foi o egoísmo que não nos permitiu
Você me estendeu sua mão e eu segurei
Não notei que o tempo passava pra mim.

Seus olhos que me causavam vertigem
E seus cabelos que me tiravam o chão
Sua voz rouca que ouvia e só eu entendia
Me fazia existir era certo e eu sabia.

A paixão nos deixou da noite pro dia
O amor foi com ela fazer companhia
Não se culpe por ter chegado o fim
Saiba que continuo gostando de mim.

Não sei onde li ou se alguém me dizia
Que tudo que é bom também acabaria
Sigo só na estrada como tanto temia
Fui embora sem ao menos dizer que partia.

domingo, 30 de junho de 2019

Sobre o Sair de Si




Refletindo sobre o "sair de si" como uma maneira de escrever versos, conforme conversamos há alguns dias, me deparei com a lembrança do outro assunto que também comentei no mesmo momento, sobre a memória de cada um. Pois bem, vou me atrever a tentar descrever aqui a que conclusão cheguei, claro, pode ser um ledo engano, mas há uma possibilidade de esclarecer ao mesmo tempo o "sair de si" para escrever versos, e a utilização da memória, ou, o papel da memória nessa tarefa que, acredito, tem um papel importante. 
Tomara que consiga me fazer compreender e tentarei ser o mais sucinto possível. 
O que seria o "sair de si" se não o resgate ou o resgatar da memória ? Mas a memória, essa individual, subjetiva que todos(as) trazemos de tudo, ou quase tudo, ou o que selecionamos para que se torne memória, até como uma forma de proteção contra frustrações, seria apenas essa memória o suficiente para que o poeta possa escrever versos que muitas vezes tocam sentimentos de outras pessoas que não apenas os dele, o poeta ? Ou haveria algo a mais que faz com que o poeta escreva ? e não me refiro, claro, unicamente ao que escrevo, mas ao que leio e me emociono com o que outros poetas escrevem.
Esse algo mais seria apenas o "sair de si" ? Bem, creio que não. E é aí que entra a memória, mas não apenas a memória subjetiva, mas uma outra memória que chamarei de "memória das memórias", ou seja, quando o poeta escreve, ele não está se utilizando apenas da sua memória, mas da memória de outros autores, que ele leu e que, ao ler, o poeta, intuitivamente, claro, não todos porém, a maioria ou, digamos, um bom número deles, digo intuitivamente pois nem todos se utilizam das técnicas da hermenêutica ou da exegese, ou seja, essas técnicas são importantes pois ajudam, colaboram, porém não determinam que sejam unicamente elas que irão ajudar o poeta a interpretar e explicar, para si, e, muitas vezes para outras pessoas através de seus versos o que memorizou e está a materializar no papel.
Quando falo aqui do uso das técnicas da exegese e da hermenêutica, para que fique mais claro onde pretendo chegar, quero dizer que o poeta, ao ler um enunciado ele não se prende, como disse, as vezes intuitivamente as vezes com a utilização de técnicas, simplesmente a letra, a palavra, a frase que está escrita, mas o poeta vai além, ele busca no autor seu tempo, ou seja, como era o tempo em que aquele autor viveu ? Quais eram a literatura a que ele teria acesso, ou não exatamente acesso, mas que ele, o auto mais se identificava, que mais lia. Alguns autores, (e isso não só em textos poéticos, como sabemos, mas em romances e, principalmente no meio acadêmico, onde é uma exigência que se diga em que autores ou teóricos baseiam seus textos, artigos, enfim) expressam, ou nos dão uma pista sobre seus hábitos de leitura.
  Alguns mais claramente, dizem os nomes dos principais autores que leem, outros deixam subtendidos, outros ainda deixam isso a critério da curiosidade e da investigação do leitor. Resumindo, a utilização do que classifiquei como "memória das memórias" e, como sei que jamais vou ler tudo o que gostaria, e sei que outros já podem ter chegado a conclusões mais sensatas e mais coerentes a respeito do "sair de si" que aqui explico como sendo a junção da memória subjetiva do autor e a memória, ou a compreensão do que seria a memória de outros autores, e, que, espero ter deixado claro, me refiro basicamente ao trabalho de criação artística de versos.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Ato Indeterminado

No  país a morbidez
Elegeu um presidente
Promotor da ignorância
Decadente e intolerante.

Sem nenhuma honraria
Sem verdade e sem patente
O eleitor foi para a urna
Se dizendo consciente.

Mas votou em quem odeia
Quem engana e diz ser crente
Que governa para um povo
Que ele julga ser demente.

Para eleger tal presidente
A toga se fez presente
A justiça que era lenta
Acelerou sua sentença.

Se juntou a velha mídia
Que se diz sem preconceito
Vazou áudio deu um jeito
Combinando seus malfeitos.

Com o povo impressionado
Com farda, toga e jornal
Criou-se um grande inimigo
Em toda rede nacional.

O juiz diz não as provas
E se baseia em delação
Que ele mesmo negocia
E faz sua interpretação.

Com ardil trai a defesa
Não vê que é desatinado
Burla a lei expede mandado
Condena sem provar ato.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Sarau no Campus


Sarau no Campus

No sarau do CAA
O talento é popular
A música, a letra a poesia
Tomam conta do lugar

Rosi Aguilar solta a voz
E faz todo mundo cantar
Sóstenes marca o compasso
Nas suas cordas a dedilhar

O violão a voz e a poesia
Não perdem por esperar
A professora Ana Barros
Fazer a ciranda rodar

A sala toda se abraça
Celebrando a diferença
Unindo na mesma memória
A turma, a Geografia e a História.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Sobras do Almoço


SOBRAS DO ALMOÇO

O que mais me deprime não é a solidão,
Mas a possibilidade dela acontecer.
É o não amor, o não querer
É o não te ver aqui, é o não te sentir
É o não ter teu toque em mim.
É o te esquecer, é a não lembrança
É o não te perceber aqui
É o pensar que você é melhor sem mim.

O que mais me deprime, não é a solidão
Mas a possibilidade dela acontecer.
É a falta da alteridade
É o ocaso aqui sem você
É mais um fim de tarde sem te ver.
É o não saber de você, é o não te abraçar
É não ver o teu olhar, a tua mão em mim
É não te alegrar quando o fim da festa chegar.

O que mais me deixa feliz, não é a solidão
Mas a possibilidade dela não acontecer.
É o teu sorriso que sempre vou ter
É o caminhar com você, é o estar ao teu lado
É o irmos a feira, a Igreja, a escola
É a tua companhia de todas as horas
É o saber que sou sempre o teu presente
É você, estar sempre em minha mente.




segunda-feira, 10 de junho de 2019

Paradidáticos

Um dos livros que o estudante utiliza 
Ajudando em sua aprendizagem. 
Parece ser um livro Didático
Mas é um livro Paradidático. 

Trazendo os mesmos assuntos
Só que com outra abordagem
O Paradidático se torna
Sinônimo do que é novidade

O livro para ser paradidático
Precisa ser bem avaliado. 
Ele chega até o estudante
Depois de ser muito testado.

Os professores e as professoras
Precisam fazer sua escolha
Se eles foram muito bem escrito
Se serve de auxílio ao didático

O livro vem de várias editoras
Todas muito respeitadas
Mas só as mais bem conceituadas
Entram nas salas de aulas.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Quantas e Quantos

De quantos olhos você precisar para me ver.
De quantas bocas você precisa para me comer.
De quanto cheiro você precisa para me sorver.
De quanto plágio você precisa para me conhecer.

De quantos lábios você precisa para me beijar.
De quanto baton você precisa para me maquiar.
De quanto colo você precisa para me deitar.
De quanta perna você precisa para me alcançar.
De quantos braços você precisa para se esbaldar.

De quanto sorriso você precisa para me alegrar.
De quantos de mim você precisa para me ver feliz.
De quanta loucura você precisa para me envolver.
De quanto juízo você precisa para me perceber.
De quanto medo você precisa para fugir de mim.
De quanta coragem você precisa para me encarar.


De quanto amor você precisa para me amar.
De quanto ter você precisa para me dar.
De quanto ódio você precisa para me odiar.
De quanto carinho você precisa para transbordar.
De quanta pele você precisa para me tocar.

De quanto frio você precisa para me abraçar.
De quanto calor você precisa para me descolar.
De quantos dentes você precisa para me rasgar.
De quanto sangue você precisa para me sangrar.
De quanta cachaça você precisa para se embriagar.

De quantas asas você precisa para voar.
De quantos sonhos você precisa para eu lhe dar.
De quantos de mim você precisa para me encontrar.
De quanta saudade você precisa para voltar.

De quanto eu me dar você precisa para completar.
De quanto dinheiro você precisa para viver.
De quanto segredo você precisa para me contar.
De quanta falta você precisa para me lembrar.
De quanta pedra você precisa para o seu lar.
De quanto sal você precisa para gostar.
De quanto doce você precisa para não amargar.

De quanto chão você precisa para pisar.
De quantas palavras você precisa para me ouvir.
De quanto falar você precisa para me calar.
De quantos não você precisa para dizer que sim.

De quanta moral você precisa para ser real.
De quantos caminhos você precisa para chegar.
De quanto eu pedir você precisa para ficar.
De quanto chorar você precisa para sorrir.





quarta-feira, 29 de maio de 2019

Sertaneja (Lavadeira-Lavandeira)

Sertaneja (Lavadeira-Lavandeira)


O sertão tão masculino
Hoje é todo feminino.
Tem mandacaru vestido
De flor bela e perfumada.

Tem o chão de terra rachada
Mas tem a lua toda enfeitada
E as estrelas colorindo
Como pingos que vão caindo.

Tem a mulher sertaneja ganhando
Em riqueza e sedução
Com leitura, cultura e tradição
Mudando de vez o meu sertão.

A sertaneja que antes perdia
Seu amor para a seca e o Sudeste
Se voltou para os estudos
Hoje lê, pensa e reflete.

Não é mais simples lavadeira
Empresária de "trufas" e doceira.
É professora bem formada
É mestre, é filósofa e doutora.

É a mulher sertaneja refletindo
Toda beleza que vem surgindo
No céu no luar e nas estrelas
Nas rendas, nas asas brancas
No revoar das lavandeiras.

Lamento

Lamento


Lamento não ter uma história triste para te contar.
Lamento não ter tido se quer um sonho para sonhar.

Lamento ter olhado tanto em teus olhos e não falar.
Lamento não ter uma palavra para sussurrar.
Lamento por te entregar ao olhar que eu não queria.
Lamento a boca que te beijou,
Lamento, deveria ter sido a minha.

Lamento não ter em meus braços e te abraçar.
Quando você correu para me encontrar.
Lamento ter olhado para outro lugar.
Quando deveria apenas te olhar.

Lamento não ter percebido teu medo de me deixar.
Lamento mais do que todos por não ter você.
Lamento não ter me despedido quando você partiu.

Lamento não ter te feito feliz como deveria.
Lamento todos dizerem que você era minha, menos eu.
Lamento no momento que você me olhou.
Não ter te olhado como deveria.

Lamento a flor que não encontrei quando ainda era dia.
Lamento a noite que chegou antes do que eu previa.
Lamento por pensar que mal te fazia, quando, na verdade,
Lamento, eu era todo o bem que você queria.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Oração Pela Libertação dos Povos Indígenas. Dedicado a Marçal Tupã-y: por Eliane Potiguara

Parem de tirar as minhas folhas e tirar a minha enxada
Basta de afogar as minhas crenças e torar minha raiz
Cessem de arrancar os meus pulmões e sufocar minha razão
Chega de matar minha cantigas e calar a minha voz

Não se seca a raiz de quem tem sementes espalhadas pela terra pra brotar
Não se apaga dos avós_rica memória veia ancestral: rituais pra se lembrar

Não se aparam largas asas que o céu é liberdade e a fé é encontrá-la.
Rogai por nós meu pai-Xamã
Pra que o espírito ruim da mata
Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Rogai por nós_terra nossa mãe
Pra que essas roupas rotas
E esses homens maus
Se acabem ao som dos maracás.

Afastai-nos das desgraças, da cachaça e da discórdia,
Ajudai a unidade entre as nações.
Alumiai homens, mulheres e crianças
Apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.

Dai-nos a luz, fé a vida nas pajelanças,
Evitai, ó Tupã, a violência e a matança.
Num lugar sagrado junto ao igarapé
Nas noites de Luas cheia, ó Marçal, chamai
Os espíritos das rochas pra dançarmos o Toré.

Trazei-nos nas festas de mandioca e pajés
Uma resistência de vida
Após bebermos nossa chica com fé.
Rogai por nós, aves-dos céus
Pra que venham onças, caititus, siriemas e capivaras
Cingir rios Juruena, São Francisco e Paraná.
Cingir até os mares do Atlântico
Porque pacíficos somos, no entanto.

Mostrai nosso caminho feito boto
Alumiai pro futuro nossa estrela
Ajudai a tocar as flautas mágicas
Pra vos cantar uma cantiga de oferenda
Ou dançar num ritual Iamaká.
Rogai por nós, Ave-Xamã
No Nordeste, no(s)ul toda a manhã
No Amazonas, agreste ou no coração da cunhã.

Rogai por nós, araras, pintados ou tatus
Vinde em nosso encontro
Meu Deus Nhenderu!
Fazei feliz nossa mintã
Que de Barrigas índias vão renascer.
Dai-nos cada dia a esperança Porque só pedimos terra e paz
Pra nossas pobres-Essas ricas crianças.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Compreensões a Partir de Pedro E. G. Ruiz sobre o pensamento de Enrique Dussel.

[23:01, 24/2/2019]
   Não acredito que o voto em Bolsonaro tenha sido apenas um voto contra a corrupção, pois entendo que ainda que o ex presidente Lula tivesse roubado alguma coisa e o ex juíz Moro, agora ministro, fosse honesto, o ódio ao PT e ao Lula não se justificaria à luz da realidade.
   Acredito que há no Brasil duas correntes de pensamento, o que pensa e parte da premissa de que pensar da significado a algo isto é,torna algo em realidade, e esse pensar pode ser e foi manipulado, e o pensamento mais moderno ou contemporâneo, que parte da análise da realidade para obter assim seu significado, e esse é mais difícil de ser manipulado.
   Essas duas correntes de pensamento, claro, não seriam as únicas, mas ao que parece e por conta do envolvimento político, são as que prevalecem
   O pensamento não atribui realidade a algo. Filosofía de lá Liberacion. (Una aproximación al pensamiento de Enrique Dussel.p. 139-132)
   El pensar puede o no concordar com la realidad. Pensar pode ou não concordar com a realidade. (p. 143-136)
   El pensamiento no otorga realidad a algo. O pensamento não concede realidade a algo. Filosofía de lá Liberacion.(Una aproximación al pensamiento de Enrique Dussel.p. 139-132)
   Tentando entender o porquê de alguém como Bolsonaro que como deputado federal conseguiu ser mais medíocre, (se é que isso é possível, no caso dele) do que como ser humano, e que quando foi candidato a presidente e mesmo antes já se dizia de péssimo caráter, demonstrando claramente e com suas próprias palavras, sem ser preciso nenhuma interpretação, ser homofóbico, racista, misógino e a favor da tortura de pessoas,(para ficar só nessas declarações), e ainda assim teve sua candidatura confirmada pela justiça eleitoral e acabou vencendo o pleito.
   Pensar, e achar que por pensar torna alguma coisa real, paralisa, estanca o pensamento, não permite seu desenvolvimento, aparenta então ser uma forma de preconceito, de discriminação, mas assim, todos os eleitores desse bozo seriam preconceituosos e discriminadores, o que não parece ser o real.
   Ou, digamos, aparenta não corresponder exatamente a realidade.
   Dizer, por exemplo, que o PT é o partido que tem mais corrupto corresponde a realidade ? Dizer que o ex pres.Lula foi o presidente mais corrupto, corresponde a realidade ? Dizer que a terra é plana como já se pensou um dia, corresponde a realidade ? basta uma rápida consulta ao google para ver que não. Isso é pensar e achar que por pensar torna algo em realidade.
   Essa forma de pensar, acreditando que o pensar concede realidade a algo, segundo o que nos escreve Pedro Enrique García Ruiz, (baseado nas compreensões de Enrique Dussel e que nos remete ao pensamento de Ludwig Feuerbarch e Karl Marx) está presente (segundo o que pude abstrair desse trecho do texto de García Ruiz) no pensamento de Hegel, criticado por Feurbach e por Marx, para citar apenas dois críticos que, para resumir, consideraram alienação.
   Assim, compreendo que não são todos os eleitores de Bolsonaro que são preconceituosos e discriminadores, mas todos os que pensam e acreditam que por pensar, torna algo real, trazem consigo traços de um antigo e superado pensamento, sustentado por Hegel, e que se traduz em uma forma de alienação que pode ser facilmente manipulada, se considerarmos e associarmos aos interesses do capital financeiro especulativo internacional, o modelo midiático, sobretudo conservador, brasileiro.

sábado, 19 de janeiro de 2019

À luz da leitura do artigo AS PEGADAS DOS QUE CAMINHAM JUNTOS NUNCA SE APAGAM

    À luz da leitura do artigo AS PEGADAS DOS QUE CAMINHAM JUNTOS NUNCA SE APAGAM: enfrentamento do racismo e desafios para a construção de uma educação antirracista no Brasil, de Michele Guerreiro Ferreira, me permito fazer algumas considerações que sei, poderiam tornar o artigo ainda mais relevante, porém, se abordadas, certamente tornariam esse excelente artigo, (excelente desde o título) muito mais extenso e poderia, de alguma forma, fugir ao foco do artigo o que não seria interessante já que o artigo nos mostra em sua introdução, ao que de fato, ou a que de fato se destina [...] tomando como referência o enfrentamento do racismo no período da redemocratização nacional até os dias atuais, enfatizando o cenário educacional. (FERREIRA, 2018, p. 96).
    Assim, a primeira consideração a que me permito fazer, trata da colonização da religiosidade ou, através da religiosidade. Me refiro a imposição do catolicismo como religião oficial em detrimento da enorme diversidade de expressões religiosas africanas, ou, de matriz africana. Considero, assim, um crime sem punição o fato de se exigir que o povo colonizado e, especialmente os povos escravizados, se esquecessem não apenas da sua História
[...]“Depois disso, supunha-se que os escravizados perdiam a memória e esqueciam o seu passado, suas origens, sua identidade cultural para se tornarem seres sem nenhuma vontade de reagir ou de se rebelar.” (Extraído do documentário Atlântico Negro na Rota dos Orixás). (FERREIRA, 2018, 103)
como se isso já não fosse um mal suficiente, ainda tivessem que adotar uma religião diferente da que praticavam. Essa imposição do catolicismo, como dito a pouco que considero um crime sem punição, deveria, a meu ver, ser motivo de uma retratação ou reparação por parte do Estado brasileiro pois, como lemos no texto “Para o autor, o fim da Guerra Fria marca o término do colonialismo, mas a Colonialidade continua vigente” (FERREIRA, 2018, p. 104).
   Mesmo compreendendo ser difícil uma retratação ampla, voltada para o motivo religiosidade dado nossa sociedade hipócrita, (que chega ao absurdo de eleger um presidente que se diz a favor da tortura) compreendo que essa retratação deveria, ou poderia vir, através justamente da mudança no currículo dos livros didáticos, inicialmente das séries iniciais, que poderiam ou deveriam demonstrar a riqueza da religiosidade africana, dessa diversidade religiosa trazida pelo povo africano para o Brasil, quais resistiram e subsistiram ao colonialismo e a escravidão e quais ainda são praticadas pelos descendentes africanos, pelos afro-brasileiros.
   Entendo que há leis em vigor que sinalizam no sentido de corrigir distorções e discriminações nos livros didáticos em relação a História da escravidão no Brasil, nesse caso, concordo com as leis e espero que se materializem o quanto antes. Mas o que chamo atenção nessas considerações, como disse, à luz da leitura do artigo de Michele Guerreiro Ferreira, é a questão da religiosidade e como ela foi usada como instrumento de colonização e que precisaria de uma retratação.
    Assim, compreendo que o negro ao chegar na Universidade, ou outra instituição análoga de ensino superior, não pode se ver retratado de forma preconceituosa e discriminadora como sempre foi. Entendo que esse é um desafio imenso, Hercúleo em se tratando de Brasil, ainda mais no tocante a religião, para a disciplina “Currículo” que precisa se mostrar sensível a todas as injustiças praticadas contra povos livres que foram, de maneira desumana, colonizados, escravizados, quando não, dizimados. Por isso, entendo que se faz necessário, urgente até, que a disciplina Currículo do curso de Pedagogia UFPE-CAA que já aborda o negro, sua História, as religiões de matriz africana e suas relações com a América do Sul, especialmente, mas não tão somente, deveria ter um alcance maior, começando desde às séries iniciais de alfabetização, corrigindo, de uma forma correta, o discurso colonizador e escravista a partir da Decolonialidade.
A primeira descolonização passou longe do enfrentamento das hierarquias étnico raciais, epistêmicas, de gênero e de sexualidade, pois continuaram vigentes as concepções de existência do outro como subalterno. É por essa razão que falamos de Decolonialidade e não de uma descolonização (FERREIRA, 2018, p. 104).
    Nessas poucas linhas de considerações, entendo, e espero ter conseguido me fazer compreender, o quanto a abordagem do assunto religião na disciplina Currículo e nos livros didáticos dos anos iniciais podem, ou precisam se fazer presente, para uma completa mudança de paradigma e o estabelecimento de uma Decolonialidade que restabeleça o entendimento de que não foram trazidos escravos da África, foram trazidos  sim, povos livres que, subjugados a ferro e fogo, escravizados, produziu-se uma das mais vergonhosas páginas da História Universal e, em especial do Brasil, último país a promover (ao menos no papel) a libertação dos escravos e que precisa devolver, paulatina porém urgentemente, a dignidade Histórica que lhes fora roubada.
Att. David Soares 6° Período de Pedagogia UFPE-CAA.