sábado, 19 de janeiro de 2019

À luz da leitura do artigo AS PEGADAS DOS QUE CAMINHAM JUNTOS NUNCA SE APAGAM

    À luz da leitura do artigo AS PEGADAS DOS QUE CAMINHAM JUNTOS NUNCA SE APAGAM: enfrentamento do racismo e desafios para a construção de uma educação antirracista no Brasil, de Michele Guerreiro Ferreira, me permito fazer algumas considerações que sei, poderiam tornar o artigo ainda mais relevante, porém, se abordadas, certamente tornariam esse excelente artigo, (excelente desde o título) muito mais extenso e poderia, de alguma forma, fugir ao foco do artigo o que não seria interessante já que o artigo nos mostra em sua introdução, ao que de fato, ou a que de fato se destina [...] tomando como referência o enfrentamento do racismo no período da redemocratização nacional até os dias atuais, enfatizando o cenário educacional. (FERREIRA, 2018, p. 96).
    Assim, a primeira consideração a que me permito fazer, trata da colonização da religiosidade ou, através da religiosidade. Me refiro a imposição do catolicismo como religião oficial em detrimento da enorme diversidade de expressões religiosas africanas, ou, de matriz africana. Considero, assim, um crime sem punição o fato de se exigir que o povo colonizado e, especialmente os povos escravizados, se esquecessem não apenas da sua História
[...]“Depois disso, supunha-se que os escravizados perdiam a memória e esqueciam o seu passado, suas origens, sua identidade cultural para se tornarem seres sem nenhuma vontade de reagir ou de se rebelar.” (Extraído do documentário Atlântico Negro na Rota dos Orixás). (FERREIRA, 2018, 103)
como se isso já não fosse um mal suficiente, ainda tivessem que adotar uma religião diferente da que praticavam. Essa imposição do catolicismo, como dito a pouco que considero um crime sem punição, deveria, a meu ver, ser motivo de uma retratação ou reparação por parte do Estado brasileiro pois, como lemos no texto “Para o autor, o fim da Guerra Fria marca o término do colonialismo, mas a Colonialidade continua vigente” (FERREIRA, 2018, p. 104).
   Mesmo compreendendo ser difícil uma retratação ampla, voltada para o motivo religiosidade dado nossa sociedade hipócrita, (que chega ao absurdo de eleger um presidente que se diz a favor da tortura) compreendo que essa retratação deveria, ou poderia vir, através justamente da mudança no currículo dos livros didáticos, inicialmente das séries iniciais, que poderiam ou deveriam demonstrar a riqueza da religiosidade africana, dessa diversidade religiosa trazida pelo povo africano para o Brasil, quais resistiram e subsistiram ao colonialismo e a escravidão e quais ainda são praticadas pelos descendentes africanos, pelos afro-brasileiros.
   Entendo que há leis em vigor que sinalizam no sentido de corrigir distorções e discriminações nos livros didáticos em relação a História da escravidão no Brasil, nesse caso, concordo com as leis e espero que se materializem o quanto antes. Mas o que chamo atenção nessas considerações, como disse, à luz da leitura do artigo de Michele Guerreiro Ferreira, é a questão da religiosidade e como ela foi usada como instrumento de colonização e que precisaria de uma retratação.
    Assim, compreendo que o negro ao chegar na Universidade, ou outra instituição análoga de ensino superior, não pode se ver retratado de forma preconceituosa e discriminadora como sempre foi. Entendo que esse é um desafio imenso, Hercúleo em se tratando de Brasil, ainda mais no tocante a religião, para a disciplina “Currículo” que precisa se mostrar sensível a todas as injustiças praticadas contra povos livres que foram, de maneira desumana, colonizados, escravizados, quando não, dizimados. Por isso, entendo que se faz necessário, urgente até, que a disciplina Currículo do curso de Pedagogia UFPE-CAA que já aborda o negro, sua História, as religiões de matriz africana e suas relações com a América do Sul, especialmente, mas não tão somente, deveria ter um alcance maior, começando desde às séries iniciais de alfabetização, corrigindo, de uma forma correta, o discurso colonizador e escravista a partir da Decolonialidade.
A primeira descolonização passou longe do enfrentamento das hierarquias étnico raciais, epistêmicas, de gênero e de sexualidade, pois continuaram vigentes as concepções de existência do outro como subalterno. É por essa razão que falamos de Decolonialidade e não de uma descolonização (FERREIRA, 2018, p. 104).
    Nessas poucas linhas de considerações, entendo, e espero ter conseguido me fazer compreender, o quanto a abordagem do assunto religião na disciplina Currículo e nos livros didáticos dos anos iniciais podem, ou precisam se fazer presente, para uma completa mudança de paradigma e o estabelecimento de uma Decolonialidade que restabeleça o entendimento de que não foram trazidos escravos da África, foram trazidos  sim, povos livres que, subjugados a ferro e fogo, escravizados, produziu-se uma das mais vergonhosas páginas da História Universal e, em especial do Brasil, último país a promover (ao menos no papel) a libertação dos escravos e que precisa devolver, paulatina porém urgentemente, a dignidade Histórica que lhes fora roubada.
Att. David Soares 6° Período de Pedagogia UFPE-CAA.