À
luz da leitura do artigo AS PEGADAS DOS QUE CAMINHAM JUNTOS NUNCA SE APAGAM:
enfrentamento do racismo e desafios para a construção de uma educação
antirracista no Brasil, de Michele Guerreiro Ferreira, me permito fazer algumas considerações que sei, poderiam tornar o artigo ainda
mais relevante, porém, se abordadas, certamente tornariam esse excelente artigo, (excelente desde o título) muito mais extenso e
poderia, de alguma forma, fugir ao foco do artigo o que não seria interessante já que o artigo nos mostra em sua introdução, ao que de fato, ou a que de fato
se destina [...] tomando como referência o enfrentamento do racismo no período
da redemocratização nacional até os dias atuais, enfatizando o cenário
educacional. (FERREIRA, 2018, p. 96).
Assim, a primeira consideração a que me permito fazer, trata da
colonização da religiosidade ou, através da religiosidade. Me refiro a
imposição do catolicismo como religião oficial em detrimento da enorme
diversidade de expressões religiosas africanas, ou, de matriz africana.
Considero, assim, um crime sem punição o fato de se exigir que o povo
colonizado e, especialmente os povos escravizados, se esquecessem não apenas da
sua História
[...]“Depois
disso, supunha-se que os escravizados perdiam a memória e esqueciam o seu
passado, suas origens, sua identidade cultural para se tornarem seres sem
nenhuma vontade de reagir ou de se rebelar.” (Extraído do documentário
Atlântico Negro na Rota dos Orixás). (FERREIRA, 2018, 103)
como se isso já não fosse um mal suficiente, ainda
tivessem que adotar uma religião diferente da que praticavam. Essa imposição do
catolicismo, como dito a pouco que considero um crime sem punição, deveria, a
meu ver, ser motivo de uma retratação ou reparação por parte do Estado
brasileiro pois, como lemos no texto “Para o autor, o fim da Guerra Fria
marca o término do colonialismo, mas a Colonialidade continua vigente”
(FERREIRA, 2018, p. 104).
Mesmo compreendendo ser difícil uma retratação ampla,
voltada para o motivo religiosidade dado nossa sociedade hipócrita, (que chega
ao absurdo de eleger um presidente que se diz a favor da tortura) compreendo
que essa retratação deveria, ou poderia vir, através justamente da mudança no
currículo dos livros didáticos, inicialmente das séries iniciais, que poderiam
ou deveriam demonstrar a riqueza da religiosidade africana, dessa diversidade
religiosa trazida pelo povo africano para o Brasil, quais resistiram e
subsistiram ao colonialismo e a escravidão e quais ainda são praticadas pelos
descendentes africanos, pelos afro-brasileiros.
Entendo que há leis em vigor que sinalizam no sentido de
corrigir distorções e discriminações nos livros didáticos em relação a História
da escravidão no Brasil, nesse caso, concordo com as leis e espero que se
materializem o quanto antes. Mas o que chamo atenção nessas considerações, como
disse, à luz da leitura do artigo de Michele Guerreiro Ferreira, é a questão da
religiosidade e como ela foi usada como instrumento de colonização e que
precisaria de uma retratação.
Assim, compreendo que o negro ao chegar na Universidade, ou outra instituição análoga de ensino superior, não pode se
ver retratado de forma preconceituosa e discriminadora como sempre foi. Entendo
que esse é um desafio imenso, Hercúleo em se tratando de Brasil, ainda mais no
tocante a religião, para a disciplina “Currículo” que precisa se mostrar
sensível a todas as injustiças praticadas contra povos livres que foram, de
maneira desumana, colonizados, escravizados, quando não, dizimados. Por isso, entendo
que se faz necessário, urgente até, que a disciplina Currículo do curso de Pedagogia UFPE-CAA que já aborda o
negro, sua História, as religiões de matriz africana e suas relações com a
América do Sul, especialmente, mas não tão somente, deveria ter um alcance
maior, começando desde às séries iniciais de alfabetização, corrigindo, de uma
forma correta, o discurso colonizador e escravista a partir da Decolonialidade.
A
primeira descolonização passou longe do enfrentamento das hierarquias étnico
raciais, epistêmicas, de gênero e de sexualidade, pois continuaram vigentes as
concepções de existência do outro como subalterno. É por essa razão que falamos
de Decolonialidade e não de uma descolonização (FERREIRA, 2018, p. 104).
Nessas poucas linhas de considerações, entendo, e espero
ter conseguido me fazer compreender, o quanto a abordagem do assunto religião na
disciplina Currículo e nos livros didáticos dos anos iniciais podem, ou precisam
se fazer presente, para uma completa mudança de paradigma e o estabelecimento
de uma Decolonialidade que restabeleça o entendimento de que não foram trazidos
escravos da África, foram trazidos sim, povos livres que, subjugados a ferro e fogo,
escravizados, produziu-se uma das mais vergonhosas páginas da História
Universal e, em especial do Brasil, último país a promover (ao menos no papel)
a libertação dos escravos e que precisa devolver, paulatina porém urgentemente,
a dignidade Histórica que lhes fora roubada.
Att. David Soares 6° Período de Pedagogia UFPE-CAA.
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