Refletindo
sobre o "sair de si" como uma maneira de escrever versos, conforme
conversamos há alguns dias, me deparei com a lembrança do outro assunto que
também comentei no mesmo momento, sobre a memória de cada um. Pois bem, vou me
atrever a tentar descrever aqui a que conclusão cheguei, claro, pode ser um
ledo engano, mas há uma possibilidade de esclarecer ao mesmo tempo o "sair
de si" para escrever versos, e a utilização da memória, ou, o papel da
memória nessa tarefa que, acredito, tem um papel importante.
Esse algo
mais seria apenas o "sair de si" ? Bem, creio que não. E é aí que
entra a memória, mas não apenas a memória subjetiva, mas uma outra memória que
chamarei de "memória das memórias", ou seja, quando o poeta escreve,
ele não está se utilizando apenas da sua memória, mas da memória de outros
autores, que ele leu e que, ao ler, o poeta, intuitivamente, claro, não todos
porém, a maioria ou, digamos, um bom número deles, digo intuitivamente pois nem
todos se utilizam das técnicas da hermenêutica ou da exegese, ou seja, essas
técnicas são importantes pois ajudam, colaboram, porém não determinam que sejam
unicamente elas que irão ajudar o poeta a interpretar e explicar, para si, e,
muitas vezes para outras pessoas através de seus versos o que memorizou e está
a materializar no papel.
Quando falo
aqui do uso das técnicas da exegese e da hermenêutica, para que fique mais
claro onde pretendo chegar, quero dizer que o poeta, ao ler um enunciado ele
não se prende, como disse, as vezes intuitivamente as vezes com a utilização de
técnicas, simplesmente a letra, a palavra, a frase que está escrita, mas o
poeta vai além, ele busca no autor seu tempo, ou seja, como era o tempo em que
aquele autor viveu ? Quais eram a literatura a que ele teria acesso, ou não
exatamente acesso, mas que ele, o auto mais se identificava, que mais lia.
Alguns autores, (e isso não só em textos poéticos, como sabemos, mas em
romances e, principalmente no meio acadêmico, onde é uma exigência que se diga
em que autores ou teóricos baseiam seus textos, artigos, enfim) expressam, ou
nos dão uma pista sobre seus hábitos de leitura.
Alguns mais claramente, dizem os nomes
dos principais autores que leem, outros deixam subtendidos, outros ainda deixam
isso a critério da curiosidade e da investigação do leitor. Resumindo, a
utilização do que classifiquei como "memória das memórias" e, como
sei que jamais vou ler tudo o que gostaria, e sei que outros já podem ter
chegado a conclusões mais sensatas e mais coerentes a respeito do "sair de
si" que aqui explico como sendo a junção da memória subjetiva do autor e a
memória, ou a compreensão do que seria a memória de outros autores, e, que,
espero ter deixado claro, me refiro basicamente ao trabalho de criação
artística de versos.
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