sábado, 4 de julho de 2020

Vai Passar

Vai passar.
Uma topada num móvel, um pequeno corte no dedo, aquele nosso bichinho de estimação que se foi, aquele amigo ou amiga que já não vemos mais, aquele primeiro amor que, quando pensávamos que começou, quando começamos achar que o mundo é o lugar mais bonito de se viver, termina na distância da separação inevitável.
Quando crianças perdemos muitas coisas, passamos por poucas e boas, as vezes, sofremos mais do que deveríamos.
Perdemos muito, amamos, nos machucamos, nos distanciamos.
Quando crianças perguntamos, indagamos, queremos muitas, todas as respostas, algumas impossíveis.
Quando crianças, e que tempo bom aquele quando, magoados, sofrendo e chorando, acreditando que o mundo vai acabar, que aquele corte jamais vai sarar, que jamais teremos outro animal de estimação, que jamais encontraremos  outro amigo ou amiga tão leal, que jamais amaremos de novo alguém como amamos nosso primeiro amor. 
Desesperados, sentamos ao lado da nossa mãe, nos debruçamos sobre seu colo e ela, com um único gesto, com uma única frase, um tapinha nas nossas costas, (os tapas mais amáveis que levaremos durante toda nossa vida), nos diz, vai passar.
E tudo volta ao normal, tudo volta a ser como era antes, nossa esperança renasce, "vai passar" nos devolve a vida, o corte no dedo, como que por milagre, cicatriza, a dor da separação se transforma em sorriso, até o primeiro amor, aquele que, enganados, acreditávamos jamais tê-lo, ou sentí-lo  novamente, renasce, e voltamos a olhar as pessoas com outros olhos, e a ver o mundo como um novo mundo, como um novo começo, uma nova chance de sermos e tentarmos voltar a ser, outra vez, felizes como éramos antes.
Vai passar.

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